Single-Threaded Leadership: conheça o modelo de liderança voltado para inovação

Para introduzir o conceito, imagine o seguinte cenário: uma empresa de tecnologia se viu diante do desafio de acelerar a inovação, a estrutura organizacional baseada no conceito duas pizzas – onde nenhuma equipe deve ser grande o bastante para que sejam necessárias mais do que duas pizzas para alimentá-las – se torna limitada e passam a enfrentar desafios relacionados a dependências e à eficácia da liderança. A Amazon encontrou-se nesta situação com seu modelo anterior dificultando a agilidade, o alto desempenho e a capacidade de inovar rapidamente. Entender este modelo de liderança pode oferecer insights valiosos para uma gestão estratégica de negócios.

Discutir o modelo Single-threaded Leadership (que em português significa Líderes de Segmento Único) sob a ótica da Amazon pode não ser tão relevante para todos, dada a distância entre a realidade da maioria das empresas e a Big Tech. Assim, apresento uma perspectiva enriquecida não só pela literatura, com recomendações como a série de dois artigos “Two-Pizza Teams Are Just the Start” de Tom Godden na AWS e o já clássico livro “Working Backwards” de Colin Bryar e Bill Carr (o qual ainda estou desbravando a leitura), mas também pela minha experiência prática, trazendo aprendizados sobre a implementação do modelo.

Vamos começar entendendo os modelos organizacionais de liderança mais comuns.

1. Skill-based: modelo de liderança baseado nas habilidades

Antes de compreendermos aspectos do modelo Single-Threaded Leadership, é importante a compreensão do modelo de tradicional e de seus principais desafios, que podem motivar a adoção deste modelo.  

O modelo tradicional baseado em habilidades, frequentemente adotado pelas organizações, organiza as equipes com base nas suas expertises específicas, como engenharia de dados, engenharia de qualidade e engenharia de software. Essa abordagem, embora aparentemente organizada e estruturada, esconde limitações significativas que podem não ser imediatamente percebidas.

Neste modelo, as empresas dependem de equipes funcionais organizadas para trabalhar em projetos, com o trabalho dividido e distribuído entre elas. Isso requer múltiplos pontos de coordenação e negociação para estabelecer expectativas, priorizar tarefas e sincronizar entregas. Contudo, em ambientes que demandam inovação, essa abordagem pode potencializar os riscos de ineficiências, falhas de comunicação, lentidão na execução e potenciais atrasos aos projetos.

Além disso, com múltiplos projetos sendo gerenciados simultaneamente, as equipes podem se tornar sobrecarregadas, enfrentando a escassez de tempo como um dos seus maiores desafios. Os gerentes de projeto, muitas vezes, carecem da autonomia necessária para repriorizar atividades e realocar profissionais, o que exige a escalada de problemas para níveis superiores de gestão. Ademais, esse modelo apresenta dificuldades em alcançar economias de custo e processos eficientes, enquanto se mantém alinhado ao ritmo de inovação exigido pela organização.

A accountability é comprometida neste modelo — todos são responsáveis pelo sucesso do projeto, mas, ao mesmo tempo, não o são, o que é agravado pela natureza transitória dos profissionais envolvidos. É comum que, os executivos, ou até a empresa como um todo, acabem arcando com as consequências.  

Quando alguém, frequentemente o gerente de projetos, procura assumir responsabilidades, sua autoridade, que muitas vezes é restrita, impede avanços significativos. Os líderes de equipe são obrigados a buscar consensos, fazer barganhas ou escalar constantemente decisões para alguém com autoridade agir. Esta é uma dinâmica nociva para um ambiente que visa o empoderamento e autonomia.

2. Bounded Context: modelo de liderança baseado em delimitações de contextos

O Bounded Context é um conceito chave na engenharia de software, amplamente difundido no Domain-Driven Design (DDD) proposto por Eric Evans. Ele se refere à delimitação clara de um domínio (ou subdomínio) de conhecimento, dentro do qual um modelo de domínio é definido e aplicado. Ainda dentro da engenharia de software, há o conceito de Gerenciamento de Contexto (Context Management), uma abordagem que envolve a coleta e organização de dados e informações relacionadas ao ambiente de operação de sistemas e aplicativos, bem como à interação dos usuários com estes, com o objetivo de melhorar a capacidade de adaptação e resposta dos sistemas às necessidades e comportamentos dos usuários.

No âmbito empresarial, o “contexto de negócios” abrange o ambiente interno e externo que molda as estratégias, objetivos e operações de uma organização. Isso inclui uma ampla gama de fatores como a cultura corporativa, estrutura organizacional, relações com stakeholders, tendências de mercado, regulamentação vigente e condições econômicas.  

Tanto na visão de engenharia de software quanto no mundo dos negócios, a organização do conhecimento, e a adaptação e resposta a um conjunto de variáveis dinâmicas são fundamentais para atender aos objetivos e maximizar os resultados. Uma compreensão profunda do contexto é essencial, para garantir sucesso e eficiência e para impulsionar a inovação.  

Ilustração do modelo organizacional de equipes de desenvolvimento de produtos organizadas por contextos de negócio, sendo suportados por equipes funcionais.

Em organizações que valorizam a inovação, é comum encontrar uma estrutura que prioriza a gestão por contextos, especialmente na área de desenvolvimento de produtos. Esta abordagem, muitas vezes, emerge naturalmente como uma evolução das organizações tradicionais baseadas em habilidades funcionais, refletindo uma transição estratégica para adaptar-se e responder mais eficientemente às dinâmicas do mercado e às necessidades dos usuários.

Em geral, neste modelo organizacional, as equipes de desenvolvimento de produtos concentram-se mais intensamente na construção e evolução dos produtos. Em algumas situações, elas adotam a modelo de Build & Run, responsabilizando-se por todo o ciclo de desenvolvimento do produto. Em outras ocasiões, após o desenvolvimento, homologação e lançamento, os produtos transitam para uma fase de manutenção e sustentação.

A comunicação tende a ser mais fluida e direcionada, reduzindo significativamente os ruídos. Mesmo enfrentando desafios relacionados à priorização e dependência de equipes funcionais como infraestrutura, segurança e operações, o senso de responsabilidade passa a ser maior entre os profissionais. Também se nota uma influência positiva na troca de conhecimento, promovendo o aprendizado contínuo, a experimentação e a rápida adaptação às novas condições. Essa abordagem, motiva as equipes de desenvolvimento de produtos a aprimorarem suas habilidades alinhadas aos objetivos empresariais, fortalecendo o ecossistema de inovação da organização.  

Desafios do modelo de liderança baseado na comunicação  

Nos dois modelos anteriormente mencionados discutidos, prevalentes em organizações que desenvolvem produtos digitais, a maneira como a comunicação circula entre a liderança, as equipes e os stakeholders está diretamente relacionada à forma como a organização se estrutura, destacando a fundamental importância da comunicação na organização empresarial.  

O modelo baseado em habilidades (Skill-based), que organiza as equipes com base em habilidades específicas, e o modelo de Bounded Context, que se orienta pelos contextos de negócios e domínios de conhecimento, ilustram abordagens distintas de estruturação organizacional influenciadas pela estratégia de comunicação interna, como sugere a Lei de Conway, introduzida por Melvin Conway em 1976, que estabelece um paralelo entre a estrutura organizacional e a maneira como os sistemas desenvolvidos pela empresa são projetados.  

Lei Conway: uma breve introdução e seus impactos na organização  

A Lei Conway afirma que “qualquer organização que projete sistemas, inevitavelmente estão limitadas a projetar sistemas cuja estrutura é uma cópia da sua estrutura de comunicação”. Por mais que a estratégia de engenharia lute para criar microsserviços autônomos, bem particionados, altamente escaláveis, suas limitações estarão diretamente ligadas a estrutura de comunicação da empresa.

Ilustração representando modelos de estruturas organizacionais e organização entre sistemas e softwares.

Quer um exemplo simples? Imagine uma empresa, ou melhor, uma equipe de desenvolvimento de produtos, organizado em três times (squads), cada um focado em domínios específicos, com desenvolvedores back-end e front-end trabalhando juntos, mas apenas um núcleo de profissionais para manter as estruturas de banco de dados e um único time de suporte operacional.  

A Lei de Conway sugere que, neste cenário, o software desenvolvido provavelmente terá três contextos distintos com fronteiras bem definidas, onde o código back-end é desenvolvido especificamente para atender seu correspondente front-end, dificultando o acesso externo. Além disso, é provável que haja uma base de dados única, compartilhada e monolítica, tornando-se um gargalo para a evolução do software, com implantações feitas de forma combinada, envolvendo as entregas de todos os times.

A Mentoria CPO do IFTL aborda como aplicar a Lei de Conway em organizações de equipes de desenvolvimento de produtos.

Confira alguns temas que são na Mentoria CPO do IFTL:

  • Como liderar equipes de alta performance;
  • Como gerir melhor suas atividades e prioridades;
  • Estrutura e topologia de times de produto, design e engenharia;
  • Responsabilidades, atribuições e hierarquias;
  • Desenvolvimento de pessoas (PDI) e avaliação de performance;
  • Gestão, cultura, rotinas e rituais de produto.

Assim como a Lei de Conway aborda a comunicação como pilar estratégico para uma organização, o modelo de Single-Threaded Leadership encoraja a colaboração, alinhamento entre áreas de negócio e o time de desenvolvimento de produtos em função de alcançar resultados expressivos.  

Nesse modelo, a comunicação deve ser fluida, tendo o Single-Threaded Leadership a responsabilidade de garantir que a comunicação tenha o menor nível de ruídos possível.  

Abaixo, falamos mais sobre esse modelo.

Single-threaded Leadership: o que é, como funciona e quais os benefícios desse modelo de liderança  

Antes de explorarmos mais sobre o modelo de Single-Threaded Leadership, é importante desmitificar que esta prática é exclusiva da Amazon – empresas como Google e Walmart implementaram estratégias similares em seus respectivos negócios. No entanto, o meu objetivo aqui é explorar a aplicabilidade e a eficácia desses modelos de liderança em uma variedade de contextos empresariais, tornando-os acessíveis e aplicáveis a um espectro mais amplo de organizações.

Para isso, falo abaixo sobre o que considero a maior vantagem do modelo Single-Threaded Leadership:

Autonomia e empoderamento da liderança = maturidade das equipes

Convido você a refletir: Você lidera ou faz parte de uma equipe de Líderes de Produto ou Líderes de Engenharia? Se sim, avalie o nível de autonomia e empoderamento que essa equipe tem para decisões estratégicas.  

Se a resposta for alta, talvez já tenha compreendido o principal valor do modelo praticado por essas Big-Techs. Elas têm uma liderança responsável e emponderada capaz de gerar resultados reais ao negócio, superando a lentidão e a burocracia excessiva e priorizando a agilidade e a inovação constante.  

Caso contrário, se o seu time lida com múltiplos projetos, com pouca ou nenhuma autonomia para tomar decisões, resolver problemas e/ou precisa constantemente escalar assuntos para destravar agendas, obter aprovações etc. Talvez, os próximos parágrafos sejam valiosos para tomar uma decisão em prol do seu negócio.  

Este modelo de liderança com maior autonomia e empoderamento tem como ponto forte a agilidade na tomada de decisões críticas, em prol de alcançar resultados reais para o negócio, prezando pela constante inovação da organização. A liderança atua não apenas na direção estratégica, mas também na mobilização de equipes multidisciplinares, promovendo um ambiente de trabalho onde a diversidade de habilidades e conhecimentos é amplamente valorizada.

Essa autonomia e empoderamento para tomada de decisão conferidas aos líderes se estendem às suas equipes, as quais são encorajadas a determinar o curso de ação mais eficaz para atingir os objetivos estabelecidos. Ao operar de maneira autônoma, as equipes evitam atrasos relacionados à espera de aprovações, e isso, consequentemente, reduz a necessidade de coordenação excessiva, elevando a eficiência organizacional.

A autonomia das equipes, contudo, é um reflexo de sua maturidade. Equipes maduras exibem uma notável capacidade de autogestão e execução eficiente de tarefas, demonstrando pouca necessidade de intervenção ou aprovação externa.  

Esta maturidade é diretamente proporcional à eficácia com que a autonomia e o empoderamento são assimilados pelas equipes, indicando que, sob a influência e orientação de líderes capacitados, elas podem atuar de forma autônoma, sustentando uma dinâmica ágil e voltada para o alcance de resultados.

A proposta do modelo de Single-Threaded Leadership

A proposta central deste modelo apresentado pela Amazon é estabelecer um líder único para cada iniciativa ou desafio de negócio, cujo foco principal é assegurar o sucesso e gerar resultados reais para a organização. Este líder é responsável por orientar uma ou mais equipes, projetadas para serem únicas e dedicadas, com o objetivo de cumprir as metas estabelecidas para a iniciativa.

As equipes concentram-se em desenvolver produtos estáveis e evitar dívidas técnicas e/ou produtos incompletos, com foco principal na entrega de valor real ao negócio.  

Neste modelo, há equipes multidisciplinares trabalhando em iniciativas estruturais que agregam valor ao negócio promovendo produtividade, qualidade e padronização através de componentes e ferramentas de desenvolvimento. Profissionais de agilidade, atuando como facilitadores, garantem a qualidade e a padronização dos processos de desenvolvimento, permitindo um ritmo cadenciado de entregas.  

Enquanto isso, a liderança  acompanha o desempenho e a performance das equipes para antecipar imprevistos, avaliar o sucesso das entregas e o desempenho do produto em produção.

Para orientar efetivamente o modelo de Single-Threaded Leadership, veja alguns princípios fundamentais que devem ser adotados:

  • Foco: O Single-Threaded Leader deve ser a pessoa mais capacitada para tomar decisões impactantes para a área de negócios sob sua liderança, sem levar em consideração seu cargo ou função.
  • Autonomia: Estes líderes são dotados de autonomia para fazer suas próprias escolhas, inclusive aceitando as consequências de decisões que, em retrospectiva, possam ser vistas como equivocadas.
  • Responsabilidade: Um Single-Threaded Leader tem a propriedade completa sobre as dependências que afetam a iniciativa, sendo responsável por todos os elementos que determinam o sucesso do projeto.
  • Empoderamento: Equipes sob essa liderança devem aderir a um alto padrão de qualidade para os clientes e seguir rigorosamente as práticas de governança estabelecidas pela organização. O Single-Threaded Leader deve respeitar essas práticas, a não ser que uma exceção clara seja necessária.
  • Tomada de decisão: Em situações em que não há consenso na equipe, cabe ao Single-Threaded Leader intervir como mediador para chegar a uma decisão final.

Esses princípios garantem que as equipes dirigidas sob esse modelo sejam ágeis, responsáveis e capazes de operar com uma significativa autonomia, sempre alinhadas aos objetivos e valores da organização.

Diferenças entre os modelos de liderança Single-Threaded Ownership x Leadership

Existem duas variações do modelo de liderança proposto pela Amazon: o Single-Threaded Ownership (STO) e o Single-Threaded Leadership (STL).  Ambos se distinguem pela estrutura organizacional, contudo, em cada um, o líder é responsável por garantir os resultados reais de uma única iniciativa.  

O STO é caracterizado pela concentração do controle nas mãos de um líder, que detém total gerenciamento sobre os recursos necessários para impulsionar uma iniciativa rumo ao sucesso. Neste modelo, as linhas de subordinação são claramente definidas, com cada membro da equipe reportando-se diretamente ao líder, o que simplifica a comunicação e acelera a tomada de decisões.  

Ilustração do modelo Single-Threaded Ownership, exemplificando o Lider guiando as equipes de desenvolvimento de produtos e as equipes de operações em direção aos objetivos da iniciativa.

Em contraste, o STL incorpora uma estrutura que valoriza a manutenção de uma hierarquia de reporte, promovendo uma liderança mais próxima dos membros das equipes, possibilitando oportunidades significativas para o desenvolvimento de carreiras individuais. O STL, nesse formato, assume um papel estratégico em torno da iniciativa, impulsionando a priorização e desenvolvimento de roadmaps, facilitando a comunicação entre as equipes.

Ilustração do modelo Single-Threaded Leadership, exemplificando o Lider, influenciando as equipes de desenvolvimento de produtos e as equipes de operações a seguirem em direção aos objetivos da iniciativa.

No entanto, esse líder não detém o controle dos recursos necessários para a execução da iniciativa, o que implica uma gestão baseada mais em influência e coordenação do que em autoridade direta sobre os recursos.

Tabela que mostra a diferença entre responsabilidades do STO E STL

Trabalhar com um modelo que envolve uma liderança totalmente dedicada a uma iniciativa ou desafio de negócio exige, entre outras coisas, uma mudança de mindset. Isso porque a liderança deve se concentrar exclusivamente na iniciativa, garantindo que a visão e os objetivos estejam alinhados e em destaque, pronto para comunicar e antecipar os riscos de forma eficaz.

Estrutura de time no STL: equipes orientadas por objetivos e o modelo Build & Run

Equipes enxutas em torno do produto (Product Teams), orientados por objetivos claros e mensuráveis, possuem um grande potencial para cultivar um forte senso de responsabilidade e empoderamento em relação ao produto.  

O STL deve-se valer de estratégias para mensurar e alcançar objetivos, tais como:

  • OKRs (Objectives and Key Results): Definindo objetivos ambiciosos e específicos, acompanhados de resultados-chave quantificáveis para medir o progresso.
  • KPIs (Key Performance Indicators): Utilizando indicadores de desempenho chave para monitorar a eficácia e eficiência da equipe na realização dos objetivos.
  • SMART Goals: Definindo objetivos que sejam Específicos, Mensuráveis, Alcançáveis, Relevantes e Temporais, para garantir clareza e viabilidade.
  • Management by Objectives (MBO): Estabelecendo metas claras em conjunto com cada membro da equipe, promovendo o alinhamento e o comprometimento com os objetivos organizacionais.

A estrutura dessas equipes é projetada para alcançar resultados, tendo um alto grau de multidisciplinaridade. Esse formato promove a colaboração intensa e a constante troca de conhecimentos, possibilitando uma perspectiva mais abrangente e coesa no desenvolvimento de produtos. Esse enfoque resulta na aceleração da inovação e no aumento da eficiência.

Adotando o modelo Build & Run, as equipes assumem total responsabilidade sobre o ciclo de vida do produto, desde sua concepção, desenvolvimento e testes, até o lançamento, operação e manutenção. Esse método contribui para a coesão do grupo, com um foco direcionado em maximizar a longevidade e a inovação do produto.

Além disso, a responsabilidade pela manutenção e sustentação dos produtos recai significativamente sobre as equipes incentivando um ciclo de feedback direto e estreitando a relação entre os membros da equipe e os resultados de suas ações. Isso reforça a autonomia das equipes e estimula uma inovação contínua, visando sempre a entrega de valor real aos clientes.

Por fim, os esforços tendem a impactar significativamente a percepção dos clientes em relação ao produto. A equipe, portanto, detém uma responsabilidade clara sobre o desempenho, os aspectos financeiros e o valor agregado do produto, o que permite uma resposta mais eficaz e direcionada aos desafios enfrentados.

Context-Based Leadership: modelo de liderança flexível e adaptativo ao contexto de negócio

Assim como no modelo de liderança apresentado pela Amazon e no modelo de Gerenciamento de Contextos, há uma terceira proposta que busca integrar e complementar as qualidades dos modelos anteriores, denominada Context-Based Leadership. Este modelo foca na gestão integral de equipes alocadas em um contexto de negócio.  

O papel deste líder é conduzir uma ou mais equipes multidisciplinares, assegurando a entrega e o sucesso no contexto em que estão inseridos.  

A introdução do Context-Based Leadership propõe uma abordagem flexível e adaptativa, ideal para organizações que buscam uma gestão mais holística e integrada das iniciativas ou vivenciam períodos de instabilidades e incertezas. Esta proposta possibilita a evolução natural das estratégias de liderança, adaptando-se às necessidades específicas do contexto de negócio, ao mesmo tempo em que mantém os princípios de autonomia, agilidade e inovação dos modelos anteriores.

Ilustração do modelo organizacional baseado no Single-Context Leadership, exemplificando estruturas de times de desenvolvimento de produtos e operações dentro de um contexto de negócio.

Assim como no modelo de Single-Threaded Leadership, as equipes assumem a responsabilidade completa pelo ciclo de vida do produto, desde a concepção até a entrega e manutenção, seguindo uma orientação baseada em objetivos claros e mensuráveis.  

As iniciativas são estratégias para alcançar os objetivos da organização, e as equipes de desenvolvimento de produtos e operação atuam em colaboração, de forma sinérgica, fomentando a troca de conhecimento, para maximizar o resultado e o impacto no negócio.  

Neste modelo, o Líder de Contexto, não limita seu foco a uma única iniciativa, mas sim às inter-relações entre diversas iniciativas, as quais constituem estratégias para alcançar os objetivos da organização.  

Esta liderança se adapta às necessidades específicas e à realidade do contexto de negócios em questão, com o Líder de Contexto dedicando-se a guiar as equipes em direção às metas estabelecidas pela organização.  

Tal abordagem flexível e abrangente, facilita uma adaptação mais precisa aos desafios enfrentados, otimizando a gestão do portfólio de produtos e promovendo uma eficiência operacional.

Entre os principais aspectos chave da liderança baseada em contextos estão:

  • Flexibilidade: Líderes adaptam seu estilo e estratégias baseados na situação atual, desafios e oportunidades para o negócio.
  • Consciência: Líderes de contexto são altamente cientes dos fatores externos e internos que podem impactar sua organização, incluindo tendências de mercado, nuances culturais e dinâmicas de equipe.
  • Empatia e Inteligência Emocional: Compreender os estados emocionais e psicológicos dos membros da equipe permite que líderes comuniquem de forma eficaz e motivem suas equipes.
  • Tomada de Decisão: Informados por um profundo entendimento do contexto, esses líderes tomam decisões que têm mais chances de ser eficazes na situação específica.
  • Visão e Comunicação: Eles articulam uma visão clara que ressoa com as circunstâncias específicas e a comunicam efetivamente para guiar a organização através da mudança.

Ao adotar a liderança baseada em contextos, líderes podem guiar suas equipes através das mudanças provocadas por fatores internos ou externos.  

Este modelo de liderança permite a tomada de decisões claras e bem-informadas, reconhecendo e aproveitando as especificidades do ambiente atual.  

Esse enfoque traz, entre outros benefícios, o fomento da resiliência, encorajando a inovação e mantendo a coesão das equipes durante períodos de instabilidade e incertezas.  

A liderança baseada em contextos ao enfatizar a flexibilidade, a consciência situacional, a empatia, a tomada de decisão estratégica e a comunicação clara, se mostra essencial para o sucesso organizacional em tempos de mudança.

Quer aprender a estruturar times de desenvolvimento de produtos conectados aos objetivos do negócio?

Inscreva-se na próxima turma da Mentoria CPO do IFTL. Nela, são apresentados exemplos práticos e cases de grandes players do mercado para indicar a melhor solução para aumentar a produtividade de times de produto.

Confira quais são os temas abordados na Mentoria CPO do IFTL:

  • Como liderar equipes de alta performance;
  • Como gerir melhor suas atividades e prioridades;
  • Estrutura e topologia de times de produto, design e engenharia;
  • Responsabilidades, atribuições e hierarquias;
  • Desenvolvimento de pessoas (PDI) e avaliação de performance;
  • Gestão, cultura, rotinas e rituais de produto.

Compartilhe esse post:

compartilhe esse artigo em suas redes:

Embaixador

Fernando Seguim

Gerente de Engenharia e Arquitetura na Nomad, com mais de 15 anos de experiência, especializado em sistemas REST, Event Driven, Cloud Native, e Domain Driven Design. Possui vasta experiência no setor financeiro, incluindo Core Banking, Ledger, KYC, SPB (TED), SPI (PIX), CIP, SISBAJUD, Investimentos e Criptoativos. Contribui de maneira crucial para a implementação de uma plataforma de Banking as a Service, integrando-a com o sistema de pagamentos do Brasil. Focado na construção de soluções escaláveis e seguras, lidera equipes de alta performance para maximizar o valor entregue ao negócio.

Embaixador

Fernando Seguim

Gerente de Engenharia e Arquitetura na Nomad, com mais de 15 anos de experiência, especializado em sistemas REST, Event Driven, Cloud Native, e Domain Driven Design. Possui vasta experiência no setor financeiro, incluindo Core Banking, Ledger, KYC, SPB (TED), SPI (PIX), CIP, SISBAJUD, Investimentos e Criptoativos. Contribui de maneira crucial para a implementação de uma plataforma de Banking as a Service, integrando-a com o sistema de pagamentos do Brasil. Focado na construção de soluções escaláveis e seguras, lidera equipes de alta performance para maximizar o valor entregue ao negócio.

Ver perfil do autor

Redes Sociais do autor:

Single-Threaded Leadership: conheça o modelo de liderança voltado para inovação

Para introduzir o conceito, imagine o seguinte cenário: uma empresa de tecnologia se viu diante do desafio de acelerar a inovação, a estrutura organizacional baseada no conceito duas pizzas – onde nenhuma equipe deve ser grande o bastante para que sejam necessárias mais do que duas pizzas para alimentá-las – se torna limitada e passam a enfrentar desafios relacionados a dependências e à eficácia da liderança. A Amazon encontrou-se nesta situação com seu modelo anterior dificultando a agilidade, o alto desempenho e a capacidade de inovar rapidamente. Entender este modelo de liderança pode oferecer insights valiosos para uma gestão estratégica de negócios.

Discutir o modelo Single-threaded Leadership (que em português significa Líderes de Segmento Único) sob a ótica da Amazon pode não ser tão relevante para todos, dada a distância entre a realidade da maioria das empresas e a Big Tech. Assim, apresento uma perspectiva enriquecida não só pela literatura, com recomendações como a série de dois artigos “Two-Pizza Teams Are Just the Start” de Tom Godden na AWS e o já clássico livro “Working Backwards” de Colin Bryar e Bill Carr (o qual ainda estou desbravando a leitura), mas também pela minha experiência prática, trazendo aprendizados sobre a implementação do modelo.

Vamos começar entendendo os modelos organizacionais de liderança mais comuns.

1. Skill-based: modelo de liderança baseado nas habilidades

Antes de compreendermos aspectos do modelo Single-Threaded Leadership, é importante a compreensão do modelo de tradicional e de seus principais desafios, que podem motivar a adoção deste modelo.  

O modelo tradicional baseado em habilidades, frequentemente adotado pelas organizações, organiza as equipes com base nas suas expertises específicas, como engenharia de dados, engenharia de qualidade e engenharia de software. Essa abordagem, embora aparentemente organizada e estruturada, esconde limitações significativas que podem não ser imediatamente percebidas.

Neste modelo, as empresas dependem de equipes funcionais organizadas para trabalhar em projetos, com o trabalho dividido e distribuído entre elas. Isso requer múltiplos pontos de coordenação e negociação para estabelecer expectativas, priorizar tarefas e sincronizar entregas. Contudo, em ambientes que demandam inovação, essa abordagem pode potencializar os riscos de ineficiências, falhas de comunicação, lentidão na execução e potenciais atrasos aos projetos.

Além disso, com múltiplos projetos sendo gerenciados simultaneamente, as equipes podem se tornar sobrecarregadas, enfrentando a escassez de tempo como um dos seus maiores desafios. Os gerentes de projeto, muitas vezes, carecem da autonomia necessária para repriorizar atividades e realocar profissionais, o que exige a escalada de problemas para níveis superiores de gestão. Ademais, esse modelo apresenta dificuldades em alcançar economias de custo e processos eficientes, enquanto se mantém alinhado ao ritmo de inovação exigido pela organização.

A accountability é comprometida neste modelo — todos são responsáveis pelo sucesso do projeto, mas, ao mesmo tempo, não o são, o que é agravado pela natureza transitória dos profissionais envolvidos. É comum que, os executivos, ou até a empresa como um todo, acabem arcando com as consequências.  

Quando alguém, frequentemente o gerente de projetos, procura assumir responsabilidades, sua autoridade, que muitas vezes é restrita, impede avanços significativos. Os líderes de equipe são obrigados a buscar consensos, fazer barganhas ou escalar constantemente decisões para alguém com autoridade agir. Esta é uma dinâmica nociva para um ambiente que visa o empoderamento e autonomia.

2. Bounded Context: modelo de liderança baseado em delimitações de contextos

O Bounded Context é um conceito chave na engenharia de software, amplamente difundido no Domain-Driven Design (DDD) proposto por Eric Evans. Ele se refere à delimitação clara de um domínio (ou subdomínio) de conhecimento, dentro do qual um modelo de domínio é definido e aplicado. Ainda dentro da engenharia de software, há o conceito de Gerenciamento de Contexto (Context Management), uma abordagem que envolve a coleta e organização de dados e informações relacionadas ao ambiente de operação de sistemas e aplicativos, bem como à interação dos usuários com estes, com o objetivo de melhorar a capacidade de adaptação e resposta dos sistemas às necessidades e comportamentos dos usuários.

No âmbito empresarial, o “contexto de negócios” abrange o ambiente interno e externo que molda as estratégias, objetivos e operações de uma organização. Isso inclui uma ampla gama de fatores como a cultura corporativa, estrutura organizacional, relações com stakeholders, tendências de mercado, regulamentação vigente e condições econômicas.  

Tanto na visão de engenharia de software quanto no mundo dos negócios, a organização do conhecimento, e a adaptação e resposta a um conjunto de variáveis dinâmicas são fundamentais para atender aos objetivos e maximizar os resultados. Uma compreensão profunda do contexto é essencial, para garantir sucesso e eficiência e para impulsionar a inovação.  

Ilustração do modelo organizacional de equipes de desenvolvimento de produtos organizadas por contextos de negócio, sendo suportados por equipes funcionais.

Em organizações que valorizam a inovação, é comum encontrar uma estrutura que prioriza a gestão por contextos, especialmente na área de desenvolvimento de produtos. Esta abordagem, muitas vezes, emerge naturalmente como uma evolução das organizações tradicionais baseadas em habilidades funcionais, refletindo uma transição estratégica para adaptar-se e responder mais eficientemente às dinâmicas do mercado e às necessidades dos usuários.

Em geral, neste modelo organizacional, as equipes de desenvolvimento de produtos concentram-se mais intensamente na construção e evolução dos produtos. Em algumas situações, elas adotam a modelo de Build & Run, responsabilizando-se por todo o ciclo de desenvolvimento do produto. Em outras ocasiões, após o desenvolvimento, homologação e lançamento, os produtos transitam para uma fase de manutenção e sustentação.

A comunicação tende a ser mais fluida e direcionada, reduzindo significativamente os ruídos. Mesmo enfrentando desafios relacionados à priorização e dependência de equipes funcionais como infraestrutura, segurança e operações, o senso de responsabilidade passa a ser maior entre os profissionais. Também se nota uma influência positiva na troca de conhecimento, promovendo o aprendizado contínuo, a experimentação e a rápida adaptação às novas condições. Essa abordagem, motiva as equipes de desenvolvimento de produtos a aprimorarem suas habilidades alinhadas aos objetivos empresariais, fortalecendo o ecossistema de inovação da organização.  

Desafios do modelo de liderança baseado na comunicação  

Nos dois modelos anteriormente mencionados discutidos, prevalentes em organizações que desenvolvem produtos digitais, a maneira como a comunicação circula entre a liderança, as equipes e os stakeholders está diretamente relacionada à forma como a organização se estrutura, destacando a fundamental importância da comunicação na organização empresarial.  

O modelo baseado em habilidades (Skill-based), que organiza as equipes com base em habilidades específicas, e o modelo de Bounded Context, que se orienta pelos contextos de negócios e domínios de conhecimento, ilustram abordagens distintas de estruturação organizacional influenciadas pela estratégia de comunicação interna, como sugere a Lei de Conway, introduzida por Melvin Conway em 1976, que estabelece um paralelo entre a estrutura organizacional e a maneira como os sistemas desenvolvidos pela empresa são projetados.  

Lei Conway: uma breve introdução e seus impactos na organização  

A Lei Conway afirma que “qualquer organização que projete sistemas, inevitavelmente estão limitadas a projetar sistemas cuja estrutura é uma cópia da sua estrutura de comunicação”. Por mais que a estratégia de engenharia lute para criar microsserviços autônomos, bem particionados, altamente escaláveis, suas limitações estarão diretamente ligadas a estrutura de comunicação da empresa.

Ilustração representando modelos de estruturas organizacionais e organização entre sistemas e softwares.

Quer um exemplo simples? Imagine uma empresa, ou melhor, uma equipe de desenvolvimento de produtos, organizado em três times (squads), cada um focado em domínios específicos, com desenvolvedores back-end e front-end trabalhando juntos, mas apenas um núcleo de profissionais para manter as estruturas de banco de dados e um único time de suporte operacional.  

A Lei de Conway sugere que, neste cenário, o software desenvolvido provavelmente terá três contextos distintos com fronteiras bem definidas, onde o código back-end é desenvolvido especificamente para atender seu correspondente front-end, dificultando o acesso externo. Além disso, é provável que haja uma base de dados única, compartilhada e monolítica, tornando-se um gargalo para a evolução do software, com implantações feitas de forma combinada, envolvendo as entregas de todos os times.

A Mentoria CPO do IFTL aborda como aplicar a Lei de Conway em organizações de equipes de desenvolvimento de produtos.

Confira alguns temas que são na Mentoria CPO do IFTL:

  • Como liderar equipes de alta performance;
  • Como gerir melhor suas atividades e prioridades;
  • Estrutura e topologia de times de produto, design e engenharia;
  • Responsabilidades, atribuições e hierarquias;
  • Desenvolvimento de pessoas (PDI) e avaliação de performance;
  • Gestão, cultura, rotinas e rituais de produto.

Assim como a Lei de Conway aborda a comunicação como pilar estratégico para uma organização, o modelo de Single-Threaded Leadership encoraja a colaboração, alinhamento entre áreas de negócio e o time de desenvolvimento de produtos em função de alcançar resultados expressivos.  

Nesse modelo, a comunicação deve ser fluida, tendo o Single-Threaded Leadership a responsabilidade de garantir que a comunicação tenha o menor nível de ruídos possível.  

Abaixo, falamos mais sobre esse modelo.

Single-threaded Leadership: o que é, como funciona e quais os benefícios desse modelo de liderança  

Antes de explorarmos mais sobre o modelo de Single-Threaded Leadership, é importante desmitificar que esta prática é exclusiva da Amazon – empresas como Google e Walmart implementaram estratégias similares em seus respectivos negócios. No entanto, o meu objetivo aqui é explorar a aplicabilidade e a eficácia desses modelos de liderança em uma variedade de contextos empresariais, tornando-os acessíveis e aplicáveis a um espectro mais amplo de organizações.

Para isso, falo abaixo sobre o que considero a maior vantagem do modelo Single-Threaded Leadership:

Autonomia e empoderamento da liderança = maturidade das equipes

Convido você a refletir: Você lidera ou faz parte de uma equipe de Líderes de Produto ou Líderes de Engenharia? Se sim, avalie o nível de autonomia e empoderamento que essa equipe tem para decisões estratégicas.  

Se a resposta for alta, talvez já tenha compreendido o principal valor do modelo praticado por essas Big-Techs. Elas têm uma liderança responsável e emponderada capaz de gerar resultados reais ao negócio, superando a lentidão e a burocracia excessiva e priorizando a agilidade e a inovação constante.  

Caso contrário, se o seu time lida com múltiplos projetos, com pouca ou nenhuma autonomia para tomar decisões, resolver problemas e/ou precisa constantemente escalar assuntos para destravar agendas, obter aprovações etc. Talvez, os próximos parágrafos sejam valiosos para tomar uma decisão em prol do seu negócio.  

Este modelo de liderança com maior autonomia e empoderamento tem como ponto forte a agilidade na tomada de decisões críticas, em prol de alcançar resultados reais para o negócio, prezando pela constante inovação da organização. A liderança atua não apenas na direção estratégica, mas também na mobilização de equipes multidisciplinares, promovendo um ambiente de trabalho onde a diversidade de habilidades e conhecimentos é amplamente valorizada.

Essa autonomia e empoderamento para tomada de decisão conferidas aos líderes se estendem às suas equipes, as quais são encorajadas a determinar o curso de ação mais eficaz para atingir os objetivos estabelecidos. Ao operar de maneira autônoma, as equipes evitam atrasos relacionados à espera de aprovações, e isso, consequentemente, reduz a necessidade de coordenação excessiva, elevando a eficiência organizacional.

A autonomia das equipes, contudo, é um reflexo de sua maturidade. Equipes maduras exibem uma notável capacidade de autogestão e execução eficiente de tarefas, demonstrando pouca necessidade de intervenção ou aprovação externa.  

Esta maturidade é diretamente proporcional à eficácia com que a autonomia e o empoderamento são assimilados pelas equipes, indicando que, sob a influência e orientação de líderes capacitados, elas podem atuar de forma autônoma, sustentando uma dinâmica ágil e voltada para o alcance de resultados.

A proposta do modelo de Single-Threaded Leadership

A proposta central deste modelo apresentado pela Amazon é estabelecer um líder único para cada iniciativa ou desafio de negócio, cujo foco principal é assegurar o sucesso e gerar resultados reais para a organização. Este líder é responsável por orientar uma ou mais equipes, projetadas para serem únicas e dedicadas, com o objetivo de cumprir as metas estabelecidas para a iniciativa.

As equipes concentram-se em desenvolver produtos estáveis e evitar dívidas técnicas e/ou produtos incompletos, com foco principal na entrega de valor real ao negócio.  

Neste modelo, há equipes multidisciplinares trabalhando em iniciativas estruturais que agregam valor ao negócio promovendo produtividade, qualidade e padronização através de componentes e ferramentas de desenvolvimento. Profissionais de agilidade, atuando como facilitadores, garantem a qualidade e a padronização dos processos de desenvolvimento, permitindo um ritmo cadenciado de entregas.  

Enquanto isso, a liderança  acompanha o desempenho e a performance das equipes para antecipar imprevistos, avaliar o sucesso das entregas e o desempenho do produto em produção.

Para orientar efetivamente o modelo de Single-Threaded Leadership, veja alguns princípios fundamentais que devem ser adotados:

  • Foco: O Single-Threaded Leader deve ser a pessoa mais capacitada para tomar decisões impactantes para a área de negócios sob sua liderança, sem levar em consideração seu cargo ou função.
  • Autonomia: Estes líderes são dotados de autonomia para fazer suas próprias escolhas, inclusive aceitando as consequências de decisões que, em retrospectiva, possam ser vistas como equivocadas.
  • Responsabilidade: Um Single-Threaded Leader tem a propriedade completa sobre as dependências que afetam a iniciativa, sendo responsável por todos os elementos que determinam o sucesso do projeto.
  • Empoderamento: Equipes sob essa liderança devem aderir a um alto padrão de qualidade para os clientes e seguir rigorosamente as práticas de governança estabelecidas pela organização. O Single-Threaded Leader deve respeitar essas práticas, a não ser que uma exceção clara seja necessária.
  • Tomada de decisão: Em situações em que não há consenso na equipe, cabe ao Single-Threaded Leader intervir como mediador para chegar a uma decisão final.

Esses princípios garantem que as equipes dirigidas sob esse modelo sejam ágeis, responsáveis e capazes de operar com uma significativa autonomia, sempre alinhadas aos objetivos e valores da organização.

Diferenças entre os modelos de liderança Single-Threaded Ownership x Leadership

Existem duas variações do modelo de liderança proposto pela Amazon: o Single-Threaded Ownership (STO) e o Single-Threaded Leadership (STL).  Ambos se distinguem pela estrutura organizacional, contudo, em cada um, o líder é responsável por garantir os resultados reais de uma única iniciativa.  

O STO é caracterizado pela concentração do controle nas mãos de um líder, que detém total gerenciamento sobre os recursos necessários para impulsionar uma iniciativa rumo ao sucesso. Neste modelo, as linhas de subordinação são claramente definidas, com cada membro da equipe reportando-se diretamente ao líder, o que simplifica a comunicação e acelera a tomada de decisões.  

Ilustração do modelo Single-Threaded Ownership, exemplificando o Lider guiando as equipes de desenvolvimento de produtos e as equipes de operações em direção aos objetivos da iniciativa.

Em contraste, o STL incorpora uma estrutura que valoriza a manutenção de uma hierarquia de reporte, promovendo uma liderança mais próxima dos membros das equipes, possibilitando oportunidades significativas para o desenvolvimento de carreiras individuais. O STL, nesse formato, assume um papel estratégico em torno da iniciativa, impulsionando a priorização e desenvolvimento de roadmaps, facilitando a comunicação entre as equipes.

Ilustração do modelo Single-Threaded Leadership, exemplificando o Lider, influenciando as equipes de desenvolvimento de produtos e as equipes de operações a seguirem em direção aos objetivos da iniciativa.

No entanto, esse líder não detém o controle dos recursos necessários para a execução da iniciativa, o que implica uma gestão baseada mais em influência e coordenação do que em autoridade direta sobre os recursos.

Tabela que mostra a diferença entre responsabilidades do STO E STL

Trabalhar com um modelo que envolve uma liderança totalmente dedicada a uma iniciativa ou desafio de negócio exige, entre outras coisas, uma mudança de mindset. Isso porque a liderança deve se concentrar exclusivamente na iniciativa, garantindo que a visão e os objetivos estejam alinhados e em destaque, pronto para comunicar e antecipar os riscos de forma eficaz.

Estrutura de time no STL: equipes orientadas por objetivos e o modelo Build & Run

Equipes enxutas em torno do produto (Product Teams), orientados por objetivos claros e mensuráveis, possuem um grande potencial para cultivar um forte senso de responsabilidade e empoderamento em relação ao produto.  

O STL deve-se valer de estratégias para mensurar e alcançar objetivos, tais como:

  • OKRs (Objectives and Key Results): Definindo objetivos ambiciosos e específicos, acompanhados de resultados-chave quantificáveis para medir o progresso.
  • KPIs (Key Performance Indicators): Utilizando indicadores de desempenho chave para monitorar a eficácia e eficiência da equipe na realização dos objetivos.
  • SMART Goals: Definindo objetivos que sejam Específicos, Mensuráveis, Alcançáveis, Relevantes e Temporais, para garantir clareza e viabilidade.
  • Management by Objectives (MBO): Estabelecendo metas claras em conjunto com cada membro da equipe, promovendo o alinhamento e o comprometimento com os objetivos organizacionais.

A estrutura dessas equipes é projetada para alcançar resultados, tendo um alto grau de multidisciplinaridade. Esse formato promove a colaboração intensa e a constante troca de conhecimentos, possibilitando uma perspectiva mais abrangente e coesa no desenvolvimento de produtos. Esse enfoque resulta na aceleração da inovação e no aumento da eficiência.

Adotando o modelo Build & Run, as equipes assumem total responsabilidade sobre o ciclo de vida do produto, desde sua concepção, desenvolvimento e testes, até o lançamento, operação e manutenção. Esse método contribui para a coesão do grupo, com um foco direcionado em maximizar a longevidade e a inovação do produto.

Além disso, a responsabilidade pela manutenção e sustentação dos produtos recai significativamente sobre as equipes incentivando um ciclo de feedback direto e estreitando a relação entre os membros da equipe e os resultados de suas ações. Isso reforça a autonomia das equipes e estimula uma inovação contínua, visando sempre a entrega de valor real aos clientes.

Por fim, os esforços tendem a impactar significativamente a percepção dos clientes em relação ao produto. A equipe, portanto, detém uma responsabilidade clara sobre o desempenho, os aspectos financeiros e o valor agregado do produto, o que permite uma resposta mais eficaz e direcionada aos desafios enfrentados.

Context-Based Leadership: modelo de liderança flexível e adaptativo ao contexto de negócio

Assim como no modelo de liderança apresentado pela Amazon e no modelo de Gerenciamento de Contextos, há uma terceira proposta que busca integrar e complementar as qualidades dos modelos anteriores, denominada Context-Based Leadership. Este modelo foca na gestão integral de equipes alocadas em um contexto de negócio.  

O papel deste líder é conduzir uma ou mais equipes multidisciplinares, assegurando a entrega e o sucesso no contexto em que estão inseridos.  

A introdução do Context-Based Leadership propõe uma abordagem flexível e adaptativa, ideal para organizações que buscam uma gestão mais holística e integrada das iniciativas ou vivenciam períodos de instabilidades e incertezas. Esta proposta possibilita a evolução natural das estratégias de liderança, adaptando-se às necessidades específicas do contexto de negócio, ao mesmo tempo em que mantém os princípios de autonomia, agilidade e inovação dos modelos anteriores.

Ilustração do modelo organizacional baseado no Single-Context Leadership, exemplificando estruturas de times de desenvolvimento de produtos e operações dentro de um contexto de negócio.

Assim como no modelo de Single-Threaded Leadership, as equipes assumem a responsabilidade completa pelo ciclo de vida do produto, desde a concepção até a entrega e manutenção, seguindo uma orientação baseada em objetivos claros e mensuráveis.  

As iniciativas são estratégias para alcançar os objetivos da organização, e as equipes de desenvolvimento de produtos e operação atuam em colaboração, de forma sinérgica, fomentando a troca de conhecimento, para maximizar o resultado e o impacto no negócio.  

Neste modelo, o Líder de Contexto, não limita seu foco a uma única iniciativa, mas sim às inter-relações entre diversas iniciativas, as quais constituem estratégias para alcançar os objetivos da organização.  

Esta liderança se adapta às necessidades específicas e à realidade do contexto de negócios em questão, com o Líder de Contexto dedicando-se a guiar as equipes em direção às metas estabelecidas pela organização.  

Tal abordagem flexível e abrangente, facilita uma adaptação mais precisa aos desafios enfrentados, otimizando a gestão do portfólio de produtos e promovendo uma eficiência operacional.

Entre os principais aspectos chave da liderança baseada em contextos estão:

  • Flexibilidade: Líderes adaptam seu estilo e estratégias baseados na situação atual, desafios e oportunidades para o negócio.
  • Consciência: Líderes de contexto são altamente cientes dos fatores externos e internos que podem impactar sua organização, incluindo tendências de mercado, nuances culturais e dinâmicas de equipe.
  • Empatia e Inteligência Emocional: Compreender os estados emocionais e psicológicos dos membros da equipe permite que líderes comuniquem de forma eficaz e motivem suas equipes.
  • Tomada de Decisão: Informados por um profundo entendimento do contexto, esses líderes tomam decisões que têm mais chances de ser eficazes na situação específica.
  • Visão e Comunicação: Eles articulam uma visão clara que ressoa com as circunstâncias específicas e a comunicam efetivamente para guiar a organização através da mudança.

Ao adotar a liderança baseada em contextos, líderes podem guiar suas equipes através das mudanças provocadas por fatores internos ou externos.  

Este modelo de liderança permite a tomada de decisões claras e bem-informadas, reconhecendo e aproveitando as especificidades do ambiente atual.  

Esse enfoque traz, entre outros benefícios, o fomento da resiliência, encorajando a inovação e mantendo a coesão das equipes durante períodos de instabilidade e incertezas.  

A liderança baseada em contextos ao enfatizar a flexibilidade, a consciência situacional, a empatia, a tomada de decisão estratégica e a comunicação clara, se mostra essencial para o sucesso organizacional em tempos de mudança.

Quer aprender a estruturar times de desenvolvimento de produtos conectados aos objetivos do negócio?

Inscreva-se na próxima turma da Mentoria CPO do IFTL. Nela, são apresentados exemplos práticos e cases de grandes players do mercado para indicar a melhor solução para aumentar a produtividade de times de produto.

Confira quais são os temas abordados na Mentoria CPO do IFTL:

  • Como liderar equipes de alta performance;
  • Como gerir melhor suas atividades e prioridades;
  • Estrutura e topologia de times de produto, design e engenharia;
  • Responsabilidades, atribuições e hierarquias;
  • Desenvolvimento de pessoas (PDI) e avaliação de performance;
  • Gestão, cultura, rotinas e rituais de produto.

Compartilhe esse post:

compartilhe esse artigo em suas redes:

Embaixador

Fernando Seguim

Gerente de Engenharia e Arquitetura na Nomad, com mais de 15 anos de experiência, especializado em sistemas REST, Event Driven, Cloud Native, e Domain Driven Design. Possui vasta experiência no setor financeiro, incluindo Core Banking, Ledger, KYC, SPB (TED), SPI (PIX), CIP, SISBAJUD, Investimentos e Criptoativos. Contribui de maneira crucial para a implementação de uma plataforma de Banking as a Service, integrando-a com o sistema de pagamentos do Brasil. Focado na construção de soluções escaláveis e seguras, lidera equipes de alta performance para maximizar o valor entregue ao negócio.

Ver perfil do autor

Redes Sociais do autor: