M&A: entenda qual é o papel de CTOs na captação de recursos?
A dinâmica do mercado de Tecnologia da Informação (TI), especialmente para empresas que geram valor de forma eficiente, está mais vibrante do que nunca. E essa tendência não se limita ao Vale do Silício, é um fenômeno global. Mesmo aqui no Brasil, temos testemunhado momentos auspiciosos com empresas estabelecendo parcerias estratégicas significativas.
Nesse cenário, não são apenas as grandes empresas que estão jogando o jogo do mercado, mas também pequenas e médias empresas que desenvolvem(ram) produtos ou serviços inovadores e estão navegando em águas mais profundas no quesito de investimentos.
Para se ter noção:
Sabia que 96% das aquisições de empresas de tecnologia custam em média menos de $500 milhões? Fonte: Bain & Company Report 2022
A formação de parcerias sempre foi considerada um grande negócio. Na verdade, a arte de estabelecer as parcerias certas é fundamental para o surgimento e consolidação de soluções inovadoras.
A conexão entre pessoas, empresas e soluções de valor é uma parte integral do processo de networking lucrativo nas rodadas de negócios.
Neste artigo, iremos explorar conceitos relacionados ao M&A, qual é o papel de líderes de TI na captação de recursos e conhecer alguns cases de sucesso que indicam tendências e o crescimento das aquisições no mercado tech. Vamos lá?Uma das formas de participação em empresas envolve a execução correta de processos que avaliem o valor real do negócio, sua marca, suas soluções e o valor entregue a clientes e parceiros. Um desses processos é o M&A.
O que é M&A?
O termo em inglês, Mergers and Acquisitions (Fusões e Aquisições em português), refere-se a transações estratégicas onde duas ou mais empresas se combinam. Essas fusões podem resultar na criação de uma entidade corporativa maior ou na incorporação de uma empresa menor por uma maior.
Falando sobre o tema, Jeff Bezos, fundador da Amazon, faz a seguinte provocação:
“ É preferível ter 1% de uma empresa que vale 1 bilhão (valuation) ou 100% de uma empresa que vale 1 milhão?”
Respondendo essa questão, provavelmente alguns empresários brasileiros ficariam com a segunda opção. Isso porque muitos ainda têm receio do processo de fusão por temerem perder poder e liderança ou alterar fundamentalmente a identidade de suas empresas ao se associarem a novos parceiros. É comum, inclusive, que tais empresários se afeiçoem a seus produtos e serviços, vendo-se como 'pais' de suas criações.
O que é uma pena, pois essa preocupação os impede de aproveitar oportunidades significativas para alavancar e crescer seus negócios, ampliando as capacidades da empresa e permitindo que as suas criações prosperem e superem seus criadores.
Claro que onde há sentimentos envolvidos, há também divergências de opiniões, mas no final da história, temos que focar nos resultados e nada melhor do que colher frutos maiores com parceiros que nos ajudem a alavancar ainda mais, não é mesmo?
A reflexão aqui é básica: Imagina seu produto ou serviço que outrora podia somente atender clientes regionais, atendendo territórios do mundo inteiro? Sem falar na receita que atingiria outros patamares, né? Pois bem, eis um exemplo do porquê este desprendimento a qual me refiro é necessário - com a devida cautela, é claro!
Antes de qualquer fusão é de extrema importância considerar os riscos, o que inclui avaliar corretamente o valuation da empresa, analisar detalhadamente o Demonstrativo de Resultados (DRE) e envolver especialistas jurídicos para esclarecer dúvidas.
A transparência quanto aos riscos, direitos e deveres de cada parte é fundamental para evitar problemas significativos. Investir em uma empresa de tecnologia requer atenção especial a questões como imagem, conformidade com regulamentações de tecnologia e proteção de dados (como a LGPD). Todos os envolvidos devem estar alinhados para evitar possíveis complicações.
Entrando um pouco mais no detalhe, explico melhor abaixo o processo de Due Diligence e como calcular o Valuation.
Due Diligence em M&A: como funciona?
Due Diligence é um procedimento de estudo e investigação de diferentes fatores e aspectos de uma empresa, tendo como objetivo analisar possíveis riscos que a mesma possa trazer para os diferentes públicos interessados (compradores, investidores, fornecedores, sócios, conselheiros, parceiros de negócios e demais stakeholders).
Nos processos de fusões de empresas ou aquisição de uma empresa por alguma parte interessada é comum que se faça um processo de due diligence para se entender como a empresa funciona, se ela é saudável em diferentes aspectos, quais são os seus riscos e oportunidades. Esse processo apoia, inclusive, as demais auditorias que geralmente ocorrem em fusões e aquisições.
De maneira geral, este processo analisa a empresa tanto financeiramente, quanto legalmente (compliance que em portugues indica conformidade), contendo as seguintes etapas:
- Auditoria: Verificação detalhada das informações financeiras e operacionais da empresa. Podendo haver em vários casos várias auditorias ao mesmo tempo ou integradas, tanto internamente quanto externamente, de modo independente.
- Previsões de negócios futuros: Avaliação das projeções financeiras e estratégicas da empresa.
- Identificação de oportunidades: Identificação de possíveis oportunidades de crescimento e expansão.
- Gestão de risco e compliance (conformidade): Avaliação dos riscos associados ao negócio e verificação do cumprimento das regulamentações e leis aplicáveis.
Valuation: o que é e como ele ajuda no M&A?
Valuation é o termo em inglês para "Avaliação de Empresas", "Valoração de Empresas" e "Arbitragem de Valor". Esta área de finanças estuda o processo de se avaliar o valor de determinado ativo, financeiro ou real.
Avaliações podem ser feitas sobre os ativos ou sobre passivos. É através de um processo de valuation que consultores e especialistas podem analisar contabilmente e financeiramente o valor de uma empresa, baseados em seus ativos, passivos, marca, abrangência, conhecimento, estratégia, para possíveis compra, ou venda, ou fusões da empresa que executa o valuation.
As empresas de tecnologia têm constantemente realizado valuations com consultorias especializadas para que no momento estratégico possam avançar em projetos maiores ou simplesmente deixar o negócio para um player que tenha interesse em seguir com o business.
Na aula “Modelos de negócios” da Mentoria para CTOs do IFTL, eles ensinam sobre os principais estágios de uma empresa e como calcular o valuation conforme o contexto do negócio.
Confira os tópicos que são abordados nessa aula:
- Estágios de uma empresa
- Métodos de valuation - Empresa SAAS
- Métodos de valuation - Empresa Serviço
- Métodos de valuation - Empresa Marketplace
- Eventos de liquidez e dividendos - Paydays
- Desenvolvendo budget para área de tecnologia
- Exemplos de budget para área de tecnologia
Mas, afinal, qual é o papel de TI no processo de M&A?
Além da responsabilidade do Founder que deve ter a mente aberta para iniciar um processo de M&A, há uma série de responsabilidades inerentes à liderança de TI.
O papel de Tech Leads, CTOs e Heads de Engenharia no geral é fundamental em processos como este que são extremamente estratégicos. Isso porque o papel da Tecnologia da Informação (TI) transcende a operacionalidade e o “tecniquês”, onde devemos garantir que os sistemas não apenas suportem, mas também impulsionem o crescimento e a integração das empresas envolvidas. Sem falar que precisamos prover informações importantíssimas para contabilidade, fiscal, auditoria, financeiro e a segurança da empresa como um todo.
Como a área de TI pode contribuir em processos de M&A?
Para contribuir efetivamente em processos de M&A, os CTOs devem de um modo geral possuir estes atributos (business overview):
- Entender o Negócio: Ter uma compreensão profunda do modelo de negócios, dos produtos e serviços e do mercado em que a empresa opera.
- Avaliação de Compatibilidade Tecnológica: Analisar a compatibilidade dos sistemas de TI das empresas envolvidas para identificar sinergias e potenciais desafios.
- Gestão de Riscos: Identificar e mitigar riscos associados à segurança da informação e à integração de dados.
- Liderança Estratégica: Guiar as equipes de TI durante o processo de integração, mantendo a visão estratégica alinhada aos objetivos do M&A.
- Comunicação Eficaz: Este é imprescindível e de longe para mim o mais importante! - Facilitar a comunicação entre as partes envolvidas, traduzindo termos técnicos para a linguagem dos negócios.
Quais são as responsabilidades do CTO em processos de M&A?
Entre as responsabilidades que estão no rol de líderes de TI, como heads e CTOs, temos:
- Due Diligence Tecnológica: Avaliar minuciosamente os ativos de TI da empresa-alvo para identificar oportunidades e riscos.
- Integração de Sistemas: Planejar e executar a integração dos sistemas de TI das empresas envolvidas, garantindo continuidade dos negócios.
- Alinhamento Estratégico: Assegurar que a estratégia de TI esteja alinhada com os objetivos do negócio pós-M&A.
- Governança de TI: Estabelecer políticas e procedimentos para gerenciar as operações de TI de forma eficaz após a fusão ou aquisição.
- Gerenciamento de Mudanças: Liderar a gestão de mudanças organizacionais relacionadas à TI, minimizando interrupções e resistência.
- Otimização de Custos: Identificar redundâncias e áreas para racionalização de custos em TI.
- Cultura e Talentos: Integrar as culturas de TI e desenvolver talentos para criar uma equipe unificada e eficiente.
- Inovação e Crescimento: Fomentar a inovação e apoiar o crescimento da empresa através de soluções tecnológicas avançadas.
Essas responsabilidades são fundamentais para garantir que o líder de TI possa contribuir significativamente para o sucesso do processo de M&A, agregando valor e eficiência à nova entidade empresarial.
Na aula sobre Fundraising, M&A e IPO da Mentoria para CTOs do IFTL, eles ensinam como realizar todos os processos de fusão e aquisição que envolvem o M&A. Confira abaixo os tópicos que são abordados:
- Como se preparar para um fundraising
- Como desenhar um processo para adquirir empresas
- Pontos de atenção durante um processo de M&A
- Como preparar sua empresa para o IPO
- Entendendo os estágios de uma diligência técnica para IPO
Cases de Sucesso em M&A: Parcerias Estratégicas no Setor de TI
As parcerias estratégicas também trazem investimentos e diminuição de riscos consideráveis para as empresas de TI. Para exemplificar isso, veja abaixo alguns cases de sucesso, envolvendo grandes players do mercado:
1) Microsoft e Samsung:
- Uma parceria estratégica notável no setor de Tecnologia da Informação é a colaboração entre a Microsoft e a Samsung. Essa união permitiu que ambas as empresas se reinventassem e revitalizassem o mercado. A Microsoft, por exemplo, introduziu produtos da sua divisão XBOX, incluindo jogos em nuvem, nos produtos Samsung como as smart TVs.
2) CogniSure e Pegasystems:
- Outra aliança recente ocorreu entre a empresa de tecnologia de seguros CogniSure e a plataforma de baixo código Pegasystems. Essa parceria foi estabelecida com o objetivo de revolucionar o setor de seguros, integrando a competência de Inteligência Artificial de CogniSure com o software de tomada de decisão de baixo código de Pegasystems.
3) Disney e Pixar:
- A aquisição da Pixar pela Disney em 2006 é um exemplo de como fusões estratégicas podem impulsionar o sucesso, neste caso, da Disney Animation Studios. Seguida dessa, há agora uma nova parceria sendo fechada, que promete dar mais uma boa movimentada no mercado de serviços de streaming: Disney + e Star +.
4) Facebook e WhatsApp:
- A compra do WhatsApp pelo Facebook em 2014, por US$ 19 bilhões, destaca-se como uma das maiores aquisições de startups da história, evidenciando o poder das fusões e aquisições para expandir e fortalecer empresas.
5) Colaboração entre gigantes da tecnologia:
- A parceria inédita entre Microsoft, Google, Facebook, IBM e Amazon para o desenvolvimento de tecnologias de Inteligência Artificial e investimentos no Metaverso demonstra como a cooperação entre grandes nomes pode criar canais inovadores de venda e serviços, transformando o futuro tecnológico.
Casos como estes acima reforçam como a abertura de novos negócios pode impulsionar a inovação, criando canais para vender produtos e serviços ainda inexplorados ou sequer considerados. Muitos, aparentemente, mais fáceis (de se imaginar) que só precisavam do momento certo, com as ações específicas das empresas (e pessoas) certas no local certo!
Entrar nessa rodada de negócios, requer uma visão holística de líderes de tecnologia e founders acerca do próprio negócio e das movimentações do mercado.
Para ajudar gestores tech com esse tema, meu próximo artigo será sobre como atrair investimentos para empresas de tecnologia. Espero que gostem!
Referências:
bain.com at Technology M&A | Bain & Company
pwc.com at Global M&A trends in technology, media and telecommunications: 2024 outlook | PwC
delloite.com at https://www2.deloitte.com/br/pt/pages/strategy-operations/articles/fusoes-aquisicoes-due-diligence-tecnologia.html
statista.com at Tech use in the investment industry | Statista
Embaixador
Carlos Eduardo Mazzi
Como CTO e Diretor de TI, destaco-me pela liderança em inovação tecnológica e estratégias de TI que impulsionam o crescimento global. Com vasta experiência internacional, gerenciei equipes de projetos de sucesso nos Estados Unidos, México, Argentina e Rússia, entregando soluções de TI que otimizam operações e promovem a excelência. Com passagens importantes em negócios estratégicos e inovação (M&As) unido tecnologia à resultados estratégicos